Vagas ociosas na área de TI, a culpa é de quem?

A grande quantidade de vagas ociosas na área de TI tem sido tema recorrente por muitos anos quando comparada a outras profissões, esta área se destaca pela diversidade das formas de trabalho, dinamismo e evolução contínua. Apesar de possuir grande demanda em território nacional, muitos profissionais buscam oportunidades em outros países, por outro lado, outros buscam no empreendedorismo uma alternativa para lançar-se no mercado e fugir de más práticas (o que não é tão simples como se vende por aí). Em muitos casos a decisão de buscar abrigo profissional no exterior é motivada por questões pessoais/estilo de vida, porém um dos fatores a que esta prática também se atribui é a qualidade da liderança nas empresas em geral.

Do ponto de vista de negócios, a TI não deve ser encarada como a solução fim, e sim um meio que possibilita alcançar os objetivos da organização. Por seu aspecto mutante, é mandatório que a TI esteja fortemente alinhada com as demais áreas de negócios, o sucesso de qualquer projeto está diretamente relacionado com a distribuição dos recursos e da mão-de-obra. Uma boa forma para entender a importância desta harmonia é fazer analogia com um concerto, onde a equipe é guiada por um maestro de forma harmoniosa. Seguindo esta ótica, times de TI também precisam ser orquestrados e este papel (em muitos casos) é realizado por gerentes de projetos, que dado à grande demanda e complexidade das soluções de TI atuais, muitos profissionais preferem não envolver-se em atividades técnicas e buscam abrigo na área de gestão de pessoas/projetos, que em muitos casos não possuem domínio do negócio/tecnologia e acabam a aderir à péssimas práticas muito citadas na literaturas, porém muito presentes no dia-a-dia (tanto no Brasil, quanto no exterior) tais como:

Reuniões em excesso

“Esta reunião poderia ser um e-mail”, esta frase é um jargão muito conhecido que reflete muito bem o contexto atual. A falta de confiança/conhecimento das capacidades do time, leva a inúmeras reuniões improdutivas durante o dia. Algumas metodologias propõem restringir a apenas uma reunião por dia com o intuito de ser extremamente objetiva e reativa na tentativa de encontrar bloqueios e traçar ações para resolvê-las. Um bom gerente se torna invisível para o time, de forma a prever e agir antes mesmo que os bloqueios ocorram, afinal liderar é fazer parte do problema e possibilitar a solução, liderar é ser exemplo.

Micro gerenciamento

Ainda devido à não confiança nos membros do time, e a insegurança no seu próprio potencial de liderança, muitos gerentes buscam na micro gerência uma forma de controlar cada atividade de cada profissional na tentativa frustrada de uniformizar o desenvolvimento das soluções. Felizmente por questões de fatores humanos, o micro gerenciamento se torna uma manobra ineficaz e em sua maioria invasiva, no qual em muitos casos pode levar ao assédio moral, pois pode estar diretamente relacionado com o conflito de interesses.

Conflito de interesses

Hierarquia é algo que sempre funcionou em dinastias, órgãos governamentais ou áreas militares, porém em empresas que utilizam a TI para efetuar suas operações, a hierarquia é vista como um câncer. A pressão por resultados são repassado dos cargos de chefia aos cargos de gerência, que por sua vez chegam à área técnica, este fluxo é uma herança vinda da revolução industrial e aplica-se muito bem ao contexto fabril, porém em projetos no qual envolvem TI (ou qualquer área criativa), a gerência e a área técnica precisam estar niveladas ao ponto de ficar claro que ambas possuem meios de trabalho distintos, porém apontam para o mesmo objetivo, neste caso o projeto. Com esta pressão o gerente coloca-se em uma posição ditatorial na busca do fluxo perfeito para apresentar números que comprovem seus resultados individuais.

Falta de “tato”/empatia  

Como já citado em textos anteriores, a área de TI em geral é uma mescla entre relacionamento interpessoal e a área técnica, em muitos casos as relações interpessoais se sobrepõem às necessidades de aptidões técnicas. Gerentes de projetos que buscam atuar como maestros do time necessitam trabalhar a abordagem de resolução de conflitos e as dificuldades ao longo da execução do projeto. Uma das práticas mais simples e eficientes para manter o alinhamento e a empatia com o time é a realização dos chamados “one-on-one”, ou simplesmente uma reunião a dois (gerente e membro técnico) periodicamente.

Desta forma fica claro que profissionais não abandonam as empresas, mas seus gestores, e que a aplicação de práticas de chefia ou de donos de soluções não possuem vez na área de TI, a resiliência e o entendimento de que todos os envolvidos possuem cargos e papéis distintos, porém estão no mesmo nível do ponto de vista do negócio, pode ser um fator definitivo para uma saudável longevidade da empresa. Um bom profissional nasce sempre de uma boa gestão e uma boa gestão nasce com foco em pessoas e não em resultados baseados em números.

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